A inspiração acontece

Eu curto a tua cena. Mas que caralho é a minha cena? É um 6 de copas que uma gaja esconde na manga e nem sabe? Eu não tenho nada disso! E cenas diferentes são naipes diferentes? É que se for assim só podem haver 4 cenas no mundo.

E o pior disto tudo é que são paleios que se pegam. E uma gaja de tanto ouvir o "curto a tua cena" passa também a dizer "curto a tua cena" o que não faz sentido a dobrar, porque no fundo no fundo uma gaja não sabe o que está para ali a dizer.

Depois o café. Eu não gosto de café. E para além disso já ninguém sai de casa para tomar café. Hoje em dia toda a gente tem máquinas que fazem melhor café, no conforto do lar, do que a zurrapa que se bebe no tasco mais próximo. Ahh não sei quê mas há quem retire prazer de beber um café. Há, com certeza, mas eu não sou o Clooney, a mim não me pagam pra ser a cara da nespresso. What else? Há sítios apropriados pra isso e tenho a certeza que na internet hão-de haver tipo salas privadas de chat para esse grupo elitista, onde se discutem graus de intensidade e se escrevem contos eróticos sobre aquele café colombiano que o Batman bebeu no "Bucket list". Pelo amor de Deus.

E depois do café, a mítica: estamo-nos a conhecer. Conhecer? As pessoas conhecem-se de uma vez, não andam por aí a fazer isso de forma continuada, como quem desintoxica em 12 passos. No máximo dos máximos conhecem-se e depois descobrem-se (os podres). Conhecer é num instante. Olá, eu sou a Catarina. Olá, eu sou o Miquelino. Pronto, já conheço o Miquelino. Olá, eu sou a Catarina. Olá, eu sou o Jean Michelle. Pronto, já conheço o Jean Michelle. Venha o próximo! Podia estar aqui nisto a conhecer pessoas novas o dia todo, se não tivesse mais que fazer.

E depois de nos conhecermos, vamos assumir. Pronto! Aí é que a coisa toma proporções bíblicas. O pai não gosta porque ele é do benfica. A mãe não gosta porque nunca esqueceu aquele primeiro desgraçado que nós levamos a casa quando tínhamos 17 anos e que era o amor da nossa vida mas só durou uns meses "Tão bom mocinho, nunca mais arranjas um igual". A avó não gosta porque ele tem brinco. O avô não gosta porque ele não aguenta beber um copito daquele vinho da pipa com 10 anos de borra acumulada. A tia não gosta porque ele é muito magrinho, tem ar de quem não se aguenta de pé na praia de esposende. O tio não gosta porque ele não percebe de bricolages. A amiga não gosta porque ele é feio.

Ao menos há sempre um que gosta: o amigo. O amigo tass bem, desde que ele beba uns finos, fume uns charros, coma moelas e presunto, fale de futebol e saiba apreciar aquela gaja com as mamas à mostra na contra-capa do JN ("um gajo namora mas não está morto, tens que perceber, Catarina") é um gajo fixe, é cá dos nossos, tás bem entregue, sê feliz.

Mas o amigo é só um! E o rapaz até pode ser um daqueles fixes, que sabe cozinhar e faz massagens para aliviar as contraturas que no fundo é tudo o que uma gaja deseja profundamente no final de um dia do trabalho, mas anda ali de um lado pro outro a ser sacudido e tolhido, no assumir da coisa, chega a casa com as orelhas a arder e quer é chorar encolhidinho num canto, perde logo a vontade de tudo e quem se fode é uma gaja à conta das apresentações. Em vez da massagem no deltóide e de um petit gateux com gelado de baunilha e calda de frutos vermelhos, acaba com o marmanjo a chorar no ombro, a necessitar de um boost de auto-estima e algum tipo de gratificação sexual para compensar a tortura que sofreu às mãos dos nossos familiares e amigos.

Mas os sábios la dizem que tudo vale a pena quando a alma não e pequena. Vamos assumir que a chegar a esta fase a alma do homem deve ser como a Rússia antiga e a Serra do Pico combinadas - grande e alta!

No meio disto tudo já não tenho idade para estas coisas. Tenho 26 anos pelo amor de Deus. Estou velha e sem paciência. Mas tenho que a ter. É isso ou ficar para tia que nem seria mau de todo mas acaba por ser uma sentença que não estou disposta a aceitar porque ainda não decidi bem se quero ou não ter filhos e estou mais perto dos 30 e ter um filho sozinha em Portugal é mais difícil que encontrar um homem que não dê 4 erros numa palavra de 3 letras. Eu não peço muito, só peço que seja interessante e inteligente e que não me sufoque com uma proximidade que não estou preparada para aceitar. Ok, se calhar peço muito. Até porque eu sou uma pessoa que assusta e é preciso que eles venham sem medo.

Venha 2018! Com muita paciência e menos problemáticas. Já que as prioridades agora são outras, que haja muito amor em todas as suas formas para compensar os desgostos do passado.

A minha vida deixou de ser o meu trabalho. Winter is coming, bitches! Be ready. #nomorebegreen Já chega. Não foi suficiente. Não será nunca mais.

Catarina Vilas Boas 

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