Diário de uma tese escrita em 30 dias #14 e #15

A quantidade de suspiros que se ouvem numa biblioteca dava para construir uma sinfonia.

É impressionante, há pessoas que, como eu, passam aqui o dia inteiro a ler, a sublinhar, a escrever, a teclar desenfreadamente - e não no chat do facebook como os comuns mortais, mas num simples e branco documento de word - e uma manhã inteira nisto, uma tarde inteira nisto, um dia inteiro nisto, qualquer que seja a duração da sessão, se for de mais de 30 minutos e for de trabalho, vai gerar suspiros.

Quando o silêncio está instalado - e o quanto eu adoro silêncio quando estou a trabalhar - é certinho que se vão ouvir alguns suspiros, por vezes largamente espaçados outras vezes quase uns atrás dos outros. E não são da mesma pessoa, atenção!! As pessoas que para aqui vêm trabalhar vêm porque não têm outro remédio se não trabalhar, e sabem disso, por isso mesmo, já suspiram pouco. Como eu! No início suspirava muito, agora só me permito um ou dois suspiros, dos pequeninos. Três no máximo e já a abusar. Isto porque suspirar gasta tempo e tempo é coisa que uma gaja já não tem de sobra.

Faltam poucos dias. Já não tenho uma noite de descanso: se não sonho com a tese, tenho pesadelos que me fazem acordar enregelada até aos ossos. E o pior de tudo é que eu sei que estou a sonhar - há muito que aplico uma técnica sobre a qual li há uns anos atrás que consiste em beliscar o pulso no sonho, se não doer, então é porque estamos a sonhar. É incrível a quantidade de vezes que já o fiz, o que só denota que estou meio consciente e se estou consciente não estou a descansar. O pior de tudo é que eu belisco-me belisco-me (só queria filmar essa merda para vocês verem como é ridículo) e sei que estou a sonhar e digo a mim própria para acordar e não acordo! É uma sensação impressionante, posso-vos dizer - é sentirmo-nos presos no nosso próprio corpo e viver o terror não só do pesadelo como da incapacidade de sairmos dele. Dito isto, mais vale não se beliscarem de todo e acordarem quando calhar.

Voltando à biblioteca. Para além das pessoas que vêm para aqui trabalhar, há também aquelas que vêm para aqui simplesmente para ver vídeos no youtube ou para fazer scroll no facebook. Como é possível alguém levantar-se às 9h da manhã para fazer isso é algo que me ultrapassa... E o pior é que há mesmo indivíduos que recorrem à biblioteca para esse fim mais do que uma vez por dia!

Não quero ser pessimista e pensar que essas pessoas não têm outra possibilidade de aceder à internet que não aqui. Não quero pensar nisso porque essa dedução obrigar-me-ia a concluir que essas pessoas não têm internet em casa ou, pior do que isso, não têm nem tablet, nem um computador, nem telemóvel com wi-fi que lhes permita aceder à rede sem fios gratuita espalhada por toda a cidade. Não quero porque isso é mau de mais. E nem é pelo princípio. É simplesmente pelo facto de uma gaja se estar sempre a queixar da p*ta da vida e se esquecer que, realmente, há pessoas com muito menos do que nós, que sequer têm a possibilidade de ter meia dúzia de coisas que nós temos como certas e indispensáveis.

Dito isto. Continuo na análise dos meus artigos de opinião. Já lhe dei um avanço a rasgar - principalmente porque me convenci novamente que o tempo escasseia e me deixei de preguiça e balelas - estou cansada mas contente por estar a arrumar com isto a um ritmo tão proveitoso. Espero terminar, no máximo, estes 68 até ao final da semana, e já com as devidas referências bibliográficas incluídas - essa é a parte que mais trabalho dá. Será que consigo? Acho que sim. Acho que isto da análise dos artigos é tipo o sexo - a primeira vez é desastrosa mas depois uma pessoa apanha-lhe o jeito e já faz esta merda com uma perna às costas. E sempre melhor que da última vez! E gosta do que está a fazer, que é um aspecto que convém muito, tanto no trabalho como no sexo.

Para melhorar as coisas, a minha orientadora respondeu-me. Eu tinha-lhe enviado um artigo para ela me dizer se eu estava a fazer as coisas direito e o feedback dela foi meio positivo meio negativo. Ela disse-me que a minha linha de análise lhe parecia correcta mas que não era de acordo com o two-step flow, mas sim com análise de discurso.

Wait. What? Eu fartei-me de falar do two-step flow na análise e achava que estava a fazê-la tendo em conta o modelo!? LOL E AGORA??

Bem, agora vou continuar a fazer o que estava a fazer. Se depois for preciso mudar o capítulo da metodologia que se lixe. A parte mais custosa é mesmo a análise dos artigos e se ela diz que estou a fazer a coisa bem vou continuar a fazer a coisa bem.

Vamos todos acender uma velinha pela Vilinhas e pedir a todos os santos que a minha orientadora tenha 30 minutos para estar comigo ainda esta semana. Já que estão numa de reza aproveitem e peçam-me uma noite de descanso. Eu juro que todos aqueles que me tiverem nas suas preces e no seu pensamento vão receber do Karma essa boa acção em dobro. Hell, até de mim recebem. É só identificarem-se.

Vou dormir. Amanhã é outro dia e eu ando com a pica toda. É aproveitar enquanto dura!! Tipo droga! Acho que é por causa do café que me ando a obrigar a beber. Eu não gosto de café nem bebo café e se calhar esta merda anda-me a esfrangalhar o sistema nervoso... Estou aqui com os olhos tão abertos que mais pareço um hamster virado ao contrário.

Nota-se muito?

Deixo-vos aqui dois exemplos do meu material de trabalho e notas aleatórias. 



Digam lá se não sou uma gaja organizadinha?
Catarina Vilas Boas

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