Estar sozinho não é, bem sei, da natureza humana, porque se
assim fosse ficava cada um no seu cantinho, feliz da vida, e a continuação da
espécie assentava em one night stands sem fim e vidas carnais sem qualquer
noção de família. É natural as pessoas não quererem estar sozinhas. Não é propriamente o meu caso, mas eu sou
anti-natura. Eu compreendo. Mas de não querer estar sozinho a não saber estar
sozinho vai uma grande diferença.
Porque estar ou não sozinho não depende nunca somente de
nós, para não estarmos sozinhos precisamos de outra pessoas, e já se sabe que
as pessoas são um bicho volátil e esquisito em quem nunca se pode plenamente
confiar. Então eu não gosto de estar sozinha, tudo bem, estou com alguém. E
corre tudo muito bem às mil maravilhas (ou muito mal, na pior das hipóteses)
até que um dia essa pessoa decide que não quer mais fazer-me companhia. E
depois? O que é que eu faço?
Eu faço muita coisa, porque eu sei estar sozinha. Mas quem
não sabe vive, para além da rejeição, um temor avassalador de morrer só e na
penumbra, uma necessidade ardente de calor humano, aceitação, alento. Quem não
sabe estar sozinho não compreende que todas essas coisas podem vir de nós
próprios. Nós somos a nossa própria companhia, nós somos a pessoas mais
interessante no mundo que podemos conhecer e com quem podemos conversar. Eu
apaixono-me mais um bocadinho por mim todos os dias. Mas eu sou uma gaja de
narcisismo perverso, não sou propriamente exemplo para ninguém...
E se às vezes precisarmos de alguém, porque precisamos
sempre, temos os amigos, aqueles que tínhamos antes de tudo e preservamos mesmo
quando tínhamos alguém. Quem não os preserva, que sa foda, cada um se deita na
cama que fez.
Comentários
Enviar um comentário
Digam-me de vossa justiça, revolucionários, obstinados, rebeldes e insurrectos.