Metam os olhinhos nos Gregos

Que sem medo votaram numa esquerda de direito, na mudança, que tomaram as rédeas do seu destino, surdos ao preconceito, às pressões e às ameaças da comunidade europeia. 

São heróis! São Gregos com "G" grande, porque merecem. Nós não. Nós somos portugueses, de letra minúscula. Minúscula como a mentalidade, como as atitudes, como a revolta e a inteligência, como o sentido cívico e a responsabilidade eleitoral. Somos minúsculos nos comentários do nosso Primeiro Ministro que diz que aquilo "É um conto de crianças, não existe". Somos minúsculos no jornalismo da nossa televisão pública que se atreve a erguer a voz para chamar paralítico em busca de um subsidiozinho, a um povo que correu atrás da liberdade que perdeu juntamente com o dinheiro e a qualidade de vida.

Nós, os portugueses, com minúscula, de grande temos o futebol, que enche tascos. Temos os descobrimentos que já lá vão. Mas grande mesmo é a burrice inerente a este povo jornaleiro que se queixa em cafés, a meio dos tremoços e de cigarros, que ergue a voz em devaneios peregrinos e que cerra os punhos em representação a partidos que não os representam, cujos princípios ideológicos desconhecem, cujas medidas empobrecem este pedaço de terra à beira mar plantado, cada vez mais parco em recursos e em seres humanos de valores. As pessoas passam fome, trabalham uma vida inteira sem usufruir da reforma para a qual descontaram todos os meses de trabalho, pagam impostos, estão dias a fio em hospitais, de pulseira amarela no pulso, e morrem nas salas de espera. São tratadas como encomendas. Pacotes. Mercadoria. Números. Vivem na pobreza extrema ou na pobrezazinha - que é ainda pior, pois é de espírito e não de classe social. 

Grande mesmo é o buraco onde os políticos deste país, juntamente com a Merkel, a Troika e o FMI inserem o seu orgão masculino para nos darem um andar novo, sem dó nem piedade. Que é só para não escrever "foder", já escrevendo. E quanto mais te baixas mais te veem o cu e os portugueses estão de cócoras há muitos anos, concentrados no seu umbigo, enfeitiçados pelos pés preguiçosos que não andam para a frente, independentemente dos pontapés que lhes dão nas costas, a ver se eles rebolam ribanceira abaixo. 

Vivemos todos sob as mesmas condições ou sou só eu que me apercebo das dificuldades? Estarei eu a pintar uma imagem negra que não o é? É mentira o que eu digo? É mentira o que escrevo, com a fúria nos dedos e o coração na garganta por não saber o dia de amanhã, nem o meu nem o dos meus? 

E continuam a votar nos mesmos. Continuam a dar-lhes a sua validação. E eles, confiantes do alto do seu poleiro, de bolsos cheios e mesas guarnecidas, perdem o respeito por todos nós. 

Pior! Perdem-nos o medo.

Catarina Vilas Boas

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